quarta-feira, 30 de maio de 2007

O grande irmão morreu.


Vocês não sabem o quanto eu fiquei surpreso quando me toquei da verdade sobre o GRANDE IRMÃO (fazendo referencia à distopia de George Orwell “1984”), aquela figura onisciente e onipresente, que tem sido culpada por tudo o que há de mal no mundo, de quem falamos quando acusamos os políticos de não dar educação para o povo para deixá-lo ignorante e manipular melhor, que a mídia nos submete a uma lavagem cerebral para nos tornar maquinas consumistas estúpidas, enfim, todo o tipo de teorias da conspiração.

Quando se olha por dentro de cada um dessas entidades descobrimos que não havia plano nenhum! Que a mídia só mostra o que o povo quer ver, que os políticos só querem se manter no poder (e alguns até representar o povo), que a igreja realmente acredita que esta certa e defende seus interesses, que o mercado só repete as valhas fórmulas e que o capitalismo está marchando de forma autônoma.

Não existe plano-mestre, os detentores do poder não são marionetes de grandes-mentes-brilhantes-sem-escrupulos, porque não existem tais mentes. Não estou dizendo que não há manipulação da mídia, do estado, da religião e do mercado, existe, e muita, o que não existe é a organização suprema que rege este ou aquele poder na busca de um fim perverso, apesar de às vezes parecer ao vermos a atual miséria humana.

Estas imagens de poder, como muitas outras imagens,sao apenas criações desta humanidade que nao consegue entender sistemas complexos, entao os simplifica criando idolos representativos. As forças que regem a humanidade não funcionam como devem porque são instituições humanas, repleta de seres egoístas, medrosos, falhos e limitados à mercê da maré dos fatos.

Foi daí que caiu por terra mais uma das minhas ilusões juvenis, pois já não existia mais um inimigo contra quem lutar, o que torna a batalha muito mais difícil. O velho modelo de luta por direitos e liberdade não funciona mais porque esta ultrapassado, esta ultrapassado porque o GRANDE IRMÃO é, na realidade, apenas a sobra projetada pela monumental estupidez humana!

Internet em questão

Na minha singela opinião a Internet pode ser considerada junto com a Agricultura, o motor a vapor e a eletricidade, uma das invenções da humanidade com maior potencial de gerar revoluções sociológicas. Ela cria um link etéreo entre toda a humanidade, como se de repente pudéssemos acessar de forma objetiva o inconsciente coletivo da psicologia analítica Junguiana.

Inicialmente tentamos repetir os padrões da dita "realidade", transferindo para o mundo virtual os mesmos referenciais sociais e a mesma gestão do capitalismo tardio, o que em abril de 2000 com o estouro bolha das empresas dot-com se mostrou inviável. Com o tempo a sociedade foi percebendo que teria que inventar um novo modelo (que ainda não é a web 2.0) para ser utilizado em um ambiente tão diferente do real; e é nesse contexto que nos encontramos: tentando nos adequar as potencialidades deste novo ambiente.

Por ser um sistema apenas limitado pelo status tecnológico de hardware e software, sua interação com a massa humana cria um ambiente infinito, nem paralelo, nem congruente, desprovido de moral e lei, permitindo uma liberdade que é completamente estranha ao nosso atual estado de civilização.Esta liberdade gera alguns efeitos fascinante, mostra o ser humano com uma profundidade desconcertante, um raio-X de nossa civilização.

Quando oferecemos uma liberdade incondicional ao ser humano, qual é a primeira coisa que ele busca? ...Entretenimento, mas especificamente sexo. Ao constatar que a grande maioria das entradas efetuadas em sites de busca (que representa 85% do uso da Internet) é sobre sexo penso que podemos afirmar com segurança que estamos realmente mal resolvidos em relação a este assunto, começamos a perceber que as taras e parafilías (por mais estranhas que sejam) são mais regras do que exceções e neste imenso baile de mascaras que é a net ,borbulham estas e outras referencias a características historicamente suprimidas pela moral judaico-cristã, mas isto já é outro assunto.

O ser humano também procura companhia, alto afirmação, atenção entre outros confortos que a sociedade moderna não o provê, mas também começa a demonstrar a capacidade humana de cooperação que foi é tão negligenciada em nosso mundo competitivo.

Vemos neste exato momento uma avalanche de novos movimentos que tendem à formação da sonhada comunidade global: programas p2p e bitorrent, open-source, copy-left, terrorismo poético, movimentação política de New-left, sistemas wiki, etc, processos de criação que tem como o único ganho à satisfação pessoal de estar envolvido em algo maior. Voltamos a considerar uma qualidade humana que a muito saiu de moda: o ALTRUISMO.

Apesar de seu potencial de mudança ainda é preciso lembrar que estão envolvidos neste processo apenas um pequeno percentual dos internautas e que 60% da população mundial nunca utilizou sequer um telefone, mas um grupo organizado em rede tem seu potencial de transformação incrivelmente ampliado, o que me faz acreditar que esta mudança vai reverberar profundamente no mundo “real”.

Esta nova empreitada da internet sugere algo que eu havia perdido a esperança a muito tempo, sugere que talvez, apenas talvez, o ser humano sempre esteve minimamente preparado para o Anarquismo Utópico, para a gestão comum, apesar deste estar a eras de distância.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Religião em questão

Assisti esses dias em um debate na TV Cultura um debate interessante: discorriam sobre a perda de fiéis da igreja católica para as igrejas evangélicas e atribuíam isso ao fato da igreja católica não se modernizar, como no caso da camisinha, homossexualismo e aborto, então o teólogo convidado observa algo importante:

A igreja católica não está perdendo fiéis porque ela não se modernizou, mas exatamente o contrário, foi porque ela avançou em questões essenciais. Apesar de estar obviamente atrasada em relação a alguns assuntos a igreja católica está abandonando o uso de diversos cânones como o Inferno de fogo, o demônio, o limbo, sofrimento eterno etc, pregando que todas as religiões tem seu lugar e todas as pessoas serão de alguma maneira salvas por um Deus misericordioso.

As pessoas estão abandonando o culto católico por outros com almas penadas que querem o mal, com demônios que estão espreitando em qualquer encruzilhada, com um Deus punitivo, mas que protege das maldiçoes das outras religiões pagãs.

Percebi que dai vem o sucesso das Igrejas evangélicas, quando alguém é ameaçada de maneira tão veemente não tem alternativa que não seja seguir a palavra do pregador. Esta pessoa vai parar de se embriagar por medo, vai parar de trair seu conjugue por medo, vai administrar melhor seu dinheiro, vai melhorar sua vida e vai amar a Deus e a igreja por ter lhe proporcionado tudo isso. Com ajuda de estratégias de marketing bem elaboradas o seu vizinho vai ver como ele mudou pra melhor desde que entrou para aquela religião e se sentirá inclinado a comparecer no próximo culto. As pessoas não buscam mais a salvação, ou paz de espírito, elas querem proteção e alguém que lhes diga o que fazer, um retorno ao medievalismo.

O mais o interessante é que este retorno ao medieval não está acontecendo apenas no ocidente mas também no oriente. Daqui vemos os muçulmanos do Oriente-médio como um povo muito primitivo e bárbaro, não lembrando que ali se levantaram as civilizações mais avançadas da humanidade, estas que moldaram grande parte dos aspectos de nossa vida moderna; não percebemos que esta violência, intolerância religiosa, opressão contra as mulheres é um sintoma muito atual de uma sociedade em colapso.

Prece que existe algo terrivelmente errado no mundo e que nosso inconsciente coletivo vem nos levando a tomar atitudes defensivas em escala global.

Por algum motivo a necessidade humana de criar seres onipotentes que lhes ofereçam proteção está se exacerbando.

Em que circunstancias a sociedades se defende tornando seus deuses mais fortes e presentes, contra esse inimigo opressor?

Quem é esse inimigo?